Breaking News

Emoções em mar revolto


Depois de Rio Contado,sobre desastre ambiental do rio Potengi, diretor Airton De Grande apresenta novo documentário onde utiliza o mar como metáfora para falar de sentimentos comuns entre pescadores locais e trabalhadores do mar da Noruega
Há momentos na vida que se jogar no olho do furacão (de problemas e/ou de desafios) é a melhor maneira de escapar são e salvo. Essa é a essência da mensagem que sustenta o novo projeto do documentarista Airton De Grande. Co-diretor do recente “Rio Contado”, documentário sobre o desastre ambiental no Rio Potengi em 2007, De Grande pretende aproximar a realidade de pescadores locais com a dos trabalhadores do mar na Noruega. O elo de ligação é o conto “Uma descida no Maelström”, de norte-americano Edgar Alan Poe (1809-1849), autor conhecido pelas histórias que envolvem o mistério e o macabro.
“Não adianta querer se safar temendo o medo de enfrentar e analisar o perigo, e a lida com as incertezas do mar funcionam como uma metáfora importante para se chegar a esse entendimento”, ensina Airton. Para ele, os grandes tesouros da vida estão ocultos por imagens de medo: “Na mitologia e nos contos de fadas geralmente tem um dragão ou um ser maligno guardando o tesouro, mesmo caso do Maelström, um redemoinho na costa do Noruega que guarda um ótimo ponto para pesca. E no conto de Poe, o pescador escapa do naufrágio pulando na água enquanto seus colegas tentam se agarrar no barco”.

A narrativa de Poe descreve o empenho do pescador e sua perspicácia para sobreviver ao infortúnio no litoral Norte da Europa, que trabalhava em condições semelhantes aos dos potiguares que se lançam ao mar diariamente com barcos à vela como os utilizados no século 19.

Ainda sem nome definido, o filme se fundamenta na triangulação do conto de Alan Poe, no fenômeno natural “que não ocorre da maneira fantasiosa como no conto”, e na Psicanálise “que promove um encontro com a realidade”. “Todo mundo em algum momento da vida vai se deparar com um redemoinho ameaçando a vida. É aí que reside o valor da história como possível norte aos que se acham num beco sem saída”, acrescenta o diretor Airton De Grande.

Percepção
O objetivo do documentário é revelar pontos de contato entre pescadores de lugares tão distintos como o litoral do RN e a Noruega. Para tanto serão abordados traços universais do comportamento humano como o medo, o desejo, a separação, ousadia e confiança, e a partir de depoimentos ‘in loco’ saber qual a percepção a respeito dessas palavras nas duas realidades. 

Airton, que participa de cursos oferecidos pelo Fórum do Campo Lacaniano de Natal, contou que apresentou o projeto a psicanalistas – que toparam ajudar na sistematização da abordagem, na construção das pautas e do roteiro. “Também vamos analisar juntos todo o material gravado. Acredito que o documentário levante reflexões, principalmente para quem mora nas cidades, a partir do contato com esses pescadores”.

As gravações começam ainda este mês no RN, e a previsão é que a produção leve cerca de sete meses para ser concluída – o período de filmagens no país europeu não estão definidas. O “Projeto Maelström”, nome provisório, está orçado entre R$ 250 mil e R$ 300 mil. “Estamos buscando patrocínio. O filme está enquadrado na Lei estadual de incentivo Câmara Cascudo, também inscrevi no edital Rumos Itaú e vou apresentar na Lei Rouanet (federal de incentivo). Vou correr atrás do que for possível, estamos vendo inclusive apoio com o governo da Noruega, já fizemos contato com o cônsul honorário aqui em Natal”, informou. 

O diretor garantiu que “não precisa de dinheiro” vivo em caixa, e sim formas de viabilizar viagem e estadia da equipe de quatro pessoas no Noruega. As imagens estão à cargo do diretor de fotografia Johann Jean.

A rotina da equipe, que escalou o Pico do Cabugi como forma de treinar para o terreno acidentado da Noruega, pode ser conferida na página “Diário do Maelström” no Facebook.