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Fim dos cartões de plástico? Conheça o PIX, a onda que promete invadir sua praia. Baseado em um novo modelo de pagamento de plataforma única, que já é largamente usado em países como a China e a Índia, o sistema promete mudar relações comerciais e abreviar a era dos cartões de plástico

 

Existe uma padaria do Barro Vermelho, um bairro de classe média de Natal, perto de escolas e grandes condomínios residenciais, que não aceita cartão, seja de débito ou crédito. Lá, todas as compras são feitas a dinheiro vivo ou então não tem venda, nem compra.

Num tempo em que várias barracas de praia vendem a débito e algumas até a crédito, seja na Praia do Meio ou em Ponta Negra, a chegada do PIX – nome dado ao sistema de pagamentos instantâneos (SPI) criado pelo Banco Central – promete mudar totalmente as regras do jogo.

Semana passada, nem o presidente Jair Bolsonaro sabia o que significava o PIX e teve que contar com uma mãozinha de um apoiador para explicar o que significa na famosa saidinha do Planalto.


Mas, desde o último dia 5 de outubro, milhões de brasileiros com um smartphone e conta bancária já começaram a cadastrar chaves para ter acesso ao serviço.

Na prática, ele liquida com o pagamento de tarifas em serviços como Transferência Eletrônica Disponível (TED), o Documento de Ordem de Crédito (DOC), os cartões de débito e crédito e as transferências entre contas.

Baseado em um novo meio de pagamento de plataforma única, que já é largamente usado em países como a China e a Índia, o sistema envolve não só a participação dos bancos, mas também de “fintechs” – aquelas startups que fornecem quase todos os serviços bancários com taxas muito menores – e outras empresas de serviços financeiros.

Carlos Noel, que ganha a vida como ambulantes na Praia do Meio, já sonha em entrar nessa depois trabalhar muito para conseguir uma conta em banco, já que o consumidor não paga taxas para usar os serviços e o dinheiro entra na conta em apenas alguns segundos.

Ou seja, sem bolsas, sem carteiras, apenas com um celular e uma chave, que o usuário pode inscrever até cinco, para acessar e realizar a operação. E não vai faltar instituição financeira para dar respaldo, já que até o momento 900 delas já se cadastraram, oferecendo o PIX a seus clientes.

Também acabou o drama da diarista Salete, que tem um filho trabalhando numa construtora em outro estado e que de vez em quando manda dinheiro para a conta da mãe, que cuida dos irmãos pequenos.

Pagamentos no débito, transferências ou envios de DOC não deverão levar mais do que 10 segundos pelo PIX e a transferência pode ser a qualquer hora do dia ou da noite, já que o serviço vai funcionar 24 horas, sete dias por semana, sem parada para o cafezinho ou o almoço.

E, ao contrário da família do presidente Bolsonaro, que tem uma predileção especial pelas transações em dinheiro vivo, mais de 17 milhões de chaves foram registradas ao fim do terceiro dia de registro do PIX.

INTERESSE PÚBLICO

Os cadastros começaram na segunda-feira (05/10) por meio dos canais digitais dos bancos e, de acordo com o Banco Central, foram contabilizadas 3,5 milhões de chaves só no primeiro dia, e 10,1 milhões no segundo. Portanto, interesse público não falta, especialmente por parte de milhões de pessoas que lotam as filas dos bancos para pagar boletos, principalmente, e que engordam o lucro dos bancos pagando por transferências que demoram a chegar para pessoas que, às vezes, não tem tempo para esperar.

GOLPISTAS

É claro que os golpistas não perderam tempo e já colocaram no ar dezenas de aplicativos falsos com o nome PIX para tomar o dinheiro do trabalhador. A Kaspersky, uma empresa internacional de cibersegurança que monitora o lançamento do PIX, calculou que 30 domínios com o termo “pix”, fraudulentos foram cadastrados no Brasil só nas primeiras horas comerciais da segunda-feira (5/10), quando começou oficialmente o cadastro das chaves do sistema.

As autoridades alertam que todo o cuidado é pouco e o consumidor do serviço receberá a oferta para se cadastrar dos próprios bancos que tenham conta e ninguém mais. Quem já opera suas transações por aplicativo da instituição receberá a comunicação por lá mesmo.

Os criminosos podem usar os sites falsos para tentar instalar softwares no computador ou no celular da vítima, como o malware. Nesse caso, quando clica no link falso, o usuário é direcionado para um endereço que vai liberar o download de um arquivo ou de um aplicativo que pode instalar um RAT (ferramenta de acesso remoto) no dispositivo. Quer dizer, vai permitir que os fraudadores tenham acesso ao celular ou ao computador infectado e coletem as informações desejadas.

Para não cair nessa, não clique em links recebidos por e-mail, redes sociais ou SMS que oferecem o cadastro no PIX. Confie apenas no aplicativo do internet banking que já é usado ou baixado diretamente da instituição.

COMO USAR

Basta usar o smartphone, onde já está instalado o aplicativo do banco, e fazer a leitura do QR Code que será gerado para aquela operação de compra, presencial ou pela internet. No caso de transferência, basta ter o nome, CPF ou número de telefone do beneficiado e usar um dos dados para concluir o envio do dinheiro. E atenção: os bancos não podem cobrar nada pelos serviços da pessoa física. Mas eles poderão cobrar dos lojistas uma taxa pequena, mas o percentual será bem menor do que o cobrado atualmente sobre operações como débito ou crédito.

As transferências e pagamentos são praticamente instantâneos, coisa de até 10 segundos. Diferentemente, portanto, de um DOC ou TED, que precisam ser feitos em horário comercial e nos dias úteis, o PIX pode ser feito em qualquer dia ou horário e não tem mais essa história de compensação ou cobrança de tarifa.

Chances de fraude sempre há e por isso o usuário precisará de suas chaves ou senhas para entrar.

Quanto maior o número de filtros de segurança, melhor, como senha de acesso para desbloquear a tela inicial do smartphone e ao app do banco, leitor digital, facial ou outro recurso de segurança da instituição financeira, com o usuário também podendo pagar por meio da leitura do QR Code. E o usuário pode cadastrar até cinco chaves, em diferentes instituições.

Tanto os clientes como lojistas poderão usar o sistema quantas vezes quiserem, contudo, as instituições terão a permissão do Banco Central para limitar o valor máximo da operação.

Agora, a pergunta de ouro: será possível com o PIX sacar dinheiro fora dos caixas eletrônicos? E a resposta é: sim. O usuário poderá fazer o saque em lojistas credenciados por meio de QR Codes.

Funciona assim: o lojista gera um QR Code na maquininha, que será escaneado pelo cliente. O dinheiro em espécie fica liberado para ser entregue ao cliente na hora. O saque está em desenvolvimento e deverá ser disponibilizado no primeiro trimestre de 2021. Também será possível agendar transferência, mas só se houve dinheiro disponível na conta. Do contrário, nada feito.

NÚMEROS

  • 17 milhões é o número de chaves registradas ao fim do terceiro dia de registro do PIX no Brasil;
  • 30 é a quantidade de domínios fraudulentos com o termo “pix” cadastrados no país só nas primeiras horas comerciais de entrada em vigor da plataforma;
  • 900 é o total de instituições financeiras que já se cadastraram para oferecer o PIX a seus clientes.

É O FIM DAS AGÊNCIAS?

Em 2015, apenas 21% das transações e atendimentos bancários foram feitos pelo mobile banking em comparação dos 10% do ano anterior.

Nessa ocasião, a pesquisa revelou que a grande maioria só usava o aplicativo para consultar saldo (72%), pagar contas (3%), transferir dinheiro (2%) e outras transações não financeiras (23%).

No ano passado, uma pesquisa realizada pelo IDC, empresa de inteligência de mercado, apontou que mais da metade dos entrevistados de 18 a 49 anos de idade na Colômbia, Brasil e México usam o smartphone para acessar os serviços bancários e financeiros.

Entre as pessoas de 30 a 39 anos, o uso do smartphone para acessar os serviços bancários e financeiros chega a 61%.

No Brasil, nessa ocasião, 65% do total dos entrevistados já usam mais o aplicativo do celular para abrir uma conta bancária ou acessar um produto ou serviço do que ir pessoalmente a uma agência tradicional, que somam 58%.

 


(Por:Marcelo Hollanda/AgoraRN)