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MAIS UM VÍRUS MORTAL SURGE NA BOLÍVIA

 Febre hemorrágica que matou três pessoas na Bolívia teve transmissão de vírus entre humanos

Um surto de febre hemorrágica que matou três pessoas em Caranavi, na Bolívia, foi causado por um vírus que foi capaz de se transmitir entre humanos, afirmaram cientistas americanos. Os pesquisadores dos CDC (Centros de Controle de Doenças dos EUA) sequenciaram o genoma do patógeno extraído de amostras de junho de 2019 e o identificaram como sendo o Chapare, um vírus que não era visto desde 2004.

O anúncio considerado preocupante foi feito ontem pela cientista Maria Morales-Betoulle no encontro anual da Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiene, que ocorreu virtualmente.

Os pesquisadores bolivianos não tinham conseguido identificar o vírus, porque precisavam de um laboratório de segurança de nível 4 para manipular amostras dos pacientes mortes sem incorrer em risco de recontaminação. As primeiras suspeitas eram de febre amarela, dengue hemorrágica e de um vírus local chamado Machupo, mas os resultados para essas doenças foram negativos, apesar dos sintomas semelhantes.

Após a amostra ser enviada aos laboratórios do CDC em Atlanta, nos EUA, os pesquisadores conseguiram analisar o RNA do vírus e concluir que ele se tratava de uma nova linhagem do Chapare. O vírus foi batizado em referência ao rio Chapare, que dá nome à região onde foi localizado pela primeira vez.

O surto em 2019, apesar de grave, pareceu se limitar a cinco pessoas. Dois pacientes em estado grave infectaram três trabalhadores de saúde que os atenderam. Os mortos foram um paciente e dois funcionários do hospital, mas o vírus foi encontrado também em amostras de sangue dos sobreviventes.

No trabalho, Morales-Betoulle, do CDC, afirma que já foi capaz de criar um exame diagnóstico de PCR (que detecta a presença do vírus ativo por meio de seu material genético). O material já está em mãos de autoridades sanitárias bolivianas para trabalho de vigilância contra essa nova linhagem do Chapare.

A única outra ocorrência do Chapare antes dessa tinha sido a de 2004, em Cochabamba, mas cientistas dizem considerar importante que haja um trabalho de vigilância epidemiológica agora para detectar possíveis novos surtos. O trabalho está sendo realizado agora pelo Cenentrop (Centro Nacional de Enfermidades Tropicais), ligado ao governo boliviano.

"Esse trabalho demonstra que parcerias internacionais podem ajudar reações urgentes em saúde pública e realça a necessidade de aprimorar a capacidade laboratorial da Bolívia", escreveu Morales-Betoulle no trabalho apresentado no congresso.

O vírus Chapare aparentemente tem ocorrência rara, mas como não havia um sistema robusto de detecção para o patógeno, é possível que tenha causado outras mortes em humanos inadvertidamente. Os pesquisadores acreditam que o vírus fique abrigado em roedores silvestres.
Parentesco brasileiro

O patógeno boliviano é um arenavírus, próximo ao vírus Sabiá, descoberto em 1990 após matar uma mulher em Cotia, na Grande São Paulo. No Brasil, este outro vírus só reemergiu duas vezes, com um caso em 1999 e outro em janeiro de 2020, com um homem que contraiu o vírus na região do Vale do Ribeira, em São Paulo.

Ao contrário do Chapare, porém, o Sabiá não parece ter sido transmitido de humanos para humanos em nenhuma ocasião.

Segundo João Renato Pinho, médico e bioquímico da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica, pela gravidade da doença que provoca, o Sabiá também tem suas amostras enviadas para o CDC, porque o Brasil não possui laboratório de segurança de nível 4 para manipulá-las. Após a primeira detecção houve dois casos de contaminação de pesquisadores, em São Paulo e no Pará.

Pinho encontrou o vírus quando fazia triagem de pacientes em uma pesquisa sobre hepatites virais.

— Usamos uma tecnologia nova, chamada viroma, que é capaz de detectar muitos vírus diferentes — afirmou o médico. — Pode ser que a gente comece a detectar mais casos agora, porque as técnicas de diagnóstico estão melhorando.

Segundo o especialista, o Brasil deveria investir mais em infraestrutura para monitorar esse e outro tipo de vírus.

— Eu acho que o Brasil deveria ter uma enfermaria e um laboratório de segurança nível NB4, mas é uma coisa cara, que também requer profissionais muito bem formados. Precisa ter uma vontade política muito grande para fazer isso — explica.

O Globo