Reprise: Pó pará, governador?
O recado que José Serra mandou a Aécio Neves, através de um assessor.
Pó pará, governador?
28 de fevereiro de 2009 | 0h 00.
28 de fevereiro de 2009 | 0h 00.
Mauro
Chaves – O Estado de S.Paulo.
Em
conversa com o presidente Lula no dia 6 de fevereiro, uma sexta-feira, o
governador Aécio Neves expôs-lhe a estratégia que iria adotar com o PSDB, com
vista a obter a indicação de sua candidatura a presidente da República. Essa
estratégia consistia num ultimato para que a cúpula tucana definisse a realização
de prévias eleitorais presidenciais impreterivelmente até o dia 30 de março –
“nem um dia a mais”. Era muito estranho, primeiro, que um candidato a candidato
comunicasse sua estratégia eleitoral ao adversário político antes de fazê-lo a
seus correligionários.
Mais estranho ainda era o fato de uma proposta de
procedimento jamais adotada por um partido desde sua fundação, há 20 anos — o
que exigiria, no mínimo, uma ampla discussão partidária interna -, fosse
introduzida por meio de um ultimato, uma “exigência” a ser cumprida em um mês e
meio, sob pena de… De quê, mesmo?
O que
Aécio fará se o PSDB não adotar as prévias presidenciais até 30 de março? Não
foi dito pelo governador mineiro (certamente para não assinar oficialmente um
termo de chantagem política), mas foi barulhentamente insinuado: em caso da
não-aprovação das prévias, Aécio voaria para ser presidenciável do PMDB. É
claro que para o presidente Lula e sua ungida presidenciável, a neomeiga mãe do
PAC, não haveria melhor oportunidade de cindir as forças oposicionistas,
deixando cada uma em um dos dois maiores colégios eleitorais do País. E é claro
que para o PMDB, com tantos milhões de votos no País, mas sem ter quem os
receba, como candidato a presidente da República, a adoção de Aécio como correligionário/candidato
poderia significar um upgrade fisiológico capaz de lhe propiciar um não
programado salto na conquista do poder maior — já que os menores acabou de
conquistar.
Pela
pesquisa nacional do Instituto Datafolha, os presidenciáveis tucanos têm os
seguintes índices: José Serra, 41% (disparado na frente), e Aécio Neves, 17%
(atrás de Ciro Gomes, com 25%, e de Heloisa Helena, com 19%). Por que, então, o
governador de Minas se julga capaz de reverter espetacularmente esses índices,
fazendo sua candidatura presidencial subir feito um foguete e a de seu colega e
correligionário paulista despencar feito um viaduto? Que informações essenciais
haveria, para se transmitirem aos cerca de 1 milhão e pouco de militantes
tucanos — supondo-se que estes fossem os eleitores das “exigidas” prévias, que
ninguém tem ideia de como devam ser –, para que pudesse ocorrer uma formidável
inversão de avaliação eleitoral, que desse vitória a Aécio sobre Serra (supondo
que o governador mineiro pretenda, de fato, vencê-las)?
Vejamos
o modus faciendi de preparação das prévias, sugerido (ou “exigido”?) pelo
governador mineiro: ele e Serra sairiam pelo Brasil afora apresentando suas
“propostas” de governo, suas soluções para a crise econômica, as críticas
cabíveis ao governo federal e coisas do tipo. Seriam diferentes ou semelhantes
tais propostas, soluções e críticas? Se semelhantes, apresentadas em conjunto
nos mesmos palanques “prévios”, para obter o voto do eleitor “prévio” cada um
dos concorrentes tucanos teria de tentar mostrar alguma vantagem diferencial.
Talvez Aécio apostasse em sua condição de mais moço, com bastante cabelo e
imagem de “boa pinta”, só restando a Serra falar de sua maior experiência
política, administrativa e seu preparo geral, em termos de conhecimento, cultura
e traquejo internacional. Mas se falassem a mesma coisa, harmonizados e só com
vozes diferentes, os dois correriam o risco de em algum lugar ermo do interior
ser confundidos com dupla sertaneja — quem sabe Zé Serra e Ah é, sô.
Agora,
se os discursos forem diferentes, em palanques “prévios” diferentes, haverá uma
disputa de acirramento imprevisível. E no Brasil não temos a prática
norte-americana das primárias — que uniu Obama e Hillary depois de se terem
escalpelado. Por mais que disfarcem e até simulem alianças, aqui os
concorrentes, após as eleições, sempre se tornam cordiais inimigos figadais. E
aí as semelhanças políticas estão na razão direta das diferenças pessoais. Mas
não há dúvida de que sob o ponto de vista político-administrativo Serra e Aécio
são semelhantes, porque comandam administrações competentes.
Ressalvem-se
apenas as profundas diferenças de cobrança de opinião pública entre Minas e São
Paulo. Quem já leu os jornais mineiros fica impressionado com a absoluta falta
de crítica em relação a tudo o que se relacione, direta ou indiretamente, ao
governo ou ao governador.
O caso
do “mensalão tucano” só foi publicado pelos jornais de Minas depois que a
imprensa do País inteiro já tinha dele tratado — e que o governador se
pronunciou a respeito. É que em Minas imprensa e governo são irmãos xifópagos.
Em São Paulo, ao contrário, não só Serra como todos os governos e governadores
anteriores sempre foram cobrados com força, cabresto curto, especialmente pelos
dois jornais mais importantes. Neste aspecto a democracia em São Paulo é mais
direta que a mineira (assim como a de Montoro era mais direta que a de
Tancredo). Fora isso, os governadores dos dois Estados são, com justiça, bem
avaliados por suas respectivas populações.
O
problema tucano, na sucessão presidencial, é que na política cabocla as
ambições pessoais têm razões que a razão da fidelidade política desconhece.
Agora, quando a isso se junta o sebastianismo — a volta do rei que nunca foi –,
haja pressa em restaurar o trono de São João Del Rey… Só que Aécio devia
refletir sobre o que disse seu grande conterrâneo João Guimarães Rosa: “Deus é
paciência. O diabo é o contrário.”
E hoje
talvez ele advertisse: Pó pará, governador?
Mauro
Chaves é jornalista, advogado, escritor,administrador de empresas e
pintor.
PS
do Viomundo: Nós publicamos o texto de Mauro Chaves, em 17 de março de 2010, para
mostrar o que o Serra é capaz de fazer com os colegas do próprio PSDB.
Hoje, o Eduardo Guimarães pretendia colocar o link para ele num post que
fez para o Blog
da Cidadania. Fazendo a busca no portal do Estadão, encontrou
um link que conduz a uma página em branco. Mas com ajuda de um
leitor, conseguiu recuperá-lo e conta a história toda. Via http://www.viomundo.com.br postado por Marcos Imperial.