Allyson perde aliados e vê pré-campanha esquentar
A aliança política construída em torno da eleição do prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra (União Brasil), vem sendo toda desfeita ao longo de três anos e meio do primeiro mandato. Às vésperas da campanha ao pleito de 6 de outubro, que começa após 5 de agosto com o fim do prazo de realizações das convenções partidárias para escolha de candidatos aos cargos de prefeito e vereador em 167 municípios do Rio Grande do Norte, o chefe do Executivo tentará a reeleição sem apoios de cinco aliados de primeira hora na campanha de 2020, a começar do rompimento político do vice-prefeito João Fernandes de Melo Neto, o “Fernandinho das Padarias”, ocorrido já no primeiro ano de gestão, que era filiado ao PSD e ingressou no MDB.
Em dezembro de 2021, o prefeito Allyson Bezerra demitiu todas as pessoas indicadas por “Fernandinho das Padarias”, que hoje não tem nem gabinete de trabalho, dos cargos que ocupavam na vice-prefeitura, inclusive sua sogra Francisca Nilza Batista.
O motivo seria o fato do prefeito de Mossoró discordar do posicionamento do vice de tentar alçar voos políticos. “Não resolvi ser pré-candidato a deputado estadual do nada, apenas entendi que poderia ofertar bem mais ao cidadão mossoroense do que sentado na cadeira de vice-prefeito”, chegou a dizer em nota, à época, “Fernandinho das Padarias”, que terminou disputando eleição à Câmara dos Deputados, obtendo 5.626 votos no pleito de 2022.
A dissidência do vice-prefeito abriu uma sequência de perdas de apoios, inclusive na Câmara Municipal de Mossoró, onde o prefeito Allyson Bezerra vangloria-se de ter filiado 14 vereadores em março deste ano, uma maioria que chegou a ser de 19 de uma bancada de 23 vereadores na Casa, no início da gestão em 2021.
Eleitos ao lado do prefeito para o primeiro mandato legislativo pelo mesmo partido, o Solidariedade, os vereadores Paulo Igo (MDB) e Tony Fernandes (Avante) foram os primeiros a sair da bancada da situação, pois já vinham discordando de algumas medidas administrativas do prefeito em fins de 2021.
Mas o estopim para o rompimento político veio entre fevereiro e março do ano seguinte, segundo Fernandes: “Não concordamos com a votação e aprovação dar reforma previdência sem ouvir os servidores municipais”.
No entanto, Fernandes disse “houve mesmo um rompimento político e administrativo”, porque o próprio prefeito o “pediu para desistir da campanha” a deputado estadual em 2022, quando teve 19.405 votos, dos quais 15.647 sufrágios somente em Mossoró, pouco menos do que o candidato apoiado pelo prefeito, o ex-vereador Soldado Jadson, que obteve 17.681 votos dos mossoroenses.
Já o primeiro sinal de abandono dos aliados de primeira hora foi dado em março de 2021, quando Allyson Bezerra deslocou o ex-prefeito de Olho d’Água dos Borges e ex-candidato a governador Breno Queiroga da Secretaria Municipal de Infraestrutura, Meio Ambiente, Urbanismo e Serviços Urbanos para uma recém-criada pasta extraordinária, praticamente sem orçamento, a de Projetos e Programas de Governo, onde ficou, mesmo assim, até março de 2022, quando saiu para tentar disputar o governo do Estado pelo partido Solidariedade, que terminou indicando o ex-vice-governador Fábio Dantas.
“Breno Queiroga não tinha verba e nem birô”, recorda o vereador Tony Fernandes, que se lançou pré-candidato a prefeito de Mossoró e já tem o apoio do vereador Paulo Igo, o qual havia lhe apoiado para deputado estadual em 2022.
Além do engenheiro Breno Queiroga, o prefeito Allyson Bezerra perdeu aliados políticos sem mandatos, como o empresário Tião Couto, que chegou a disputar a prefeitura de Mossoró e o Governo do Estado, bem como o ex-vereador Genivan Vale, que estava decidido a cuidar de negócios na iniciativa privada, mas atendendo apelo do presidente estadual do Partido Liberal (PL), senador Rogério Marinho, lançou-se pré-candidato a prefeito de Mossoró.
A mais recente deserção do grupo político do prefeito foi a do presidente da Câmara Municipal de Mossoró, vereador Lawrence Amorim (PSDB), cuja pré-candidatura a prefeito no segundo maior colégio eleitoral do Estado (184.488 eleitores), atrás de Natal (578.625), foi lançada pelo presidente estadual do partido e da Assembleia Legislativa, deputado estadual Ezequiel Ferreira, que pediu aos institutos de opinião pública a inclusão do seu nome nas pesquisas de intenções de votos por ocasião da visita do presidente da Executiva Nacional, Marconi Perillo, ao Rio Grande do Norte em 10 de maio.
Em “live” nas redes sociais na segunda-feira (13), Lawrence Amorim disse, claramente, que foi “chutado” por Allyson Bezerra, que negou qualquer proposta de acordo sobre a negociação de uma dívida de R$ 11 milhões da Câmara com o município, em razão de mudanças de índice de duodécimo (valor a ser repassado mensalmente ao legislativo), que caiu de 6% para 5%.
Denúncias da corrupção incomodam
A oposição ao prefeito Allyson Bezerra (União Brasil) tende a crescer a cada dia em Mossoró diante da crise administrativa e denúncias de corrupção no município, como abordou a deputada Isolda Dantas (PT) em pronunciamento na quinta-feira (16), na Assembleia Legislativa. “Tem coisa que a gente precisa trazer o outro lado da versão e da moeda”, disse a parlamentar, rebatendo em plenário o deputado estadual Neilton Diógenes (PP) por tecer elogios à gestão municipal: “Acho que essa Mossoró deve ser só no celular e na rede social, porque não é a Mossoró que eu moro”.
Para a deputada Isolda Dantas, a Mossoró de hoje “é da digital influencer
do prefeito”, porque “o tempo que passa em rede social, certamente, deve ser maior do que se preocupa com os problemas de Mossoró”. Isolda Dantas diz que, na realidade, Mossoró atualmente “vive de sucessivas denúncias de corrupção profunda”, que já chegam a quatro casos, “sem do nível de rotatividade dos secretários”.
A deputada do PT citou a condenação por falsidade ideológica do “ex-braço direito” do prefeito, o advogado Kadson Eduardo de Freitas, que “passou meses nos cargos (Planejamento e Cultura) de forma indevida”, porque em Mossoró “tem uma lei, que pessoas condenadas não podem assumir cargos no Executivo”.
“Recentemente fomos surpreendidos por áudios de também ‘homem forte’ na cultura por possível superfaturamento no Mossoró Cidade Junina”, aludiu a deputada Isolda Dantas em relação ao ex-auxiliar do prefeito, Thiago Bento, durante a contratação de artistas para o patrimônio cultural “Chuvas de bala no país de Mossoró” e que, por isso, “teve de ser exonerado”.
Ela também exemplificou o contrato com uma empresa no valor de R$ 3 milhões, em que vereadores foram atrás do endereço e nada encontraram. “Semana passada ficamos sabendo que um vaso que custava R$ 2,50, estava por R$ 760,00 numa licitação”, contou. “Como falar em transparência numa gestão dessa”, criticou a deputada, que aventou: “Isso é só o começo, eu digo que é a ponta do iceberg, sem falar de outras coisas que estão tramitando”.
Afora isso, Isolda Dantas denunciou o descalabro administrativo na demora na aquisição de um tomógrafo financiado com recursos de emenda de um deputado, “passou 630 dias encaixado, começou a pressão, o prefeito desencaixou”. Outra questão é à compra de um “castramóvel” para atendimento de animais, ao qual destinou emenda em 2020, que “até hoje não saiu do papel”.
Segundo a deputada, o prefeito “cria fatos para se sobressair”, como ocorreu ao dizer que a Caern tinha uma dívida para com o município: “Quando fomos ver os fatos, a prefeitura devia à Caern mais de R$ 100 milhões”. Agora, continuou a deputada, foi com a Câmara Municipal de Mossoró, dizendo que o Poder Legislativo devia à Prefeitura. “É exatamente o contrário, a Prefeitura deve R$ 14 milhões à Câmara”.
Candidaturas de oposição podem unir forças
Em Mossoró são cinco pré-candidatos da oposição a prefeito, mas existe a possibilidade de união em torno de um projeto político para derrotar o prefeito, é o que defende, por exemplo, a ex-prefeita e ex-vice-prefeita Cláudia Regina, que pretende voltar à Câmara Municipal pelo Progressistas.
“Esse quadro deve convergir até às convenções em agosto”, considera Cláudia Regina, entendendo que é possível que se possa se juntar o grupo “para ter a clareza de quem serão os reais candidatos” ao pleito majoritário.
Mesmo sem citar nomes, ela também disse que existe, na oposição, “a pessoa com capacidade de agregar todas as pessoas em seu entorno, temos grandes nomes”.
Mas Cláudia Regina disse ainda, em entrevista ao canal TCM de Mossoró, no meio da semana, que a ex-governadora e ex-senadora Rosalba Ciarlini, está avaliando com a família e todo o grupo político se volta a disputar a prefeitura, depois da derrota à reeleição em 2020. “Foi necessária uma pausa, quem de nós não precisa de uma pausa, quando perde um ente e se reestruturar a partir de então”, afirmou, quanto ao falecimento do ex-deputado federal Betinho Rosado, cunhado da ex-prefeita Rosalba Ciarlini.
O presidente da Câmara Municipal, vereador Lawrence Amorim (PSDB), disse que respeitando os pré-candidatos que já existiam antes de se lançar pré-candidatos a prefeito, já conversou com o Avante, Republicanos, MDB, PP e PL e outras legendas. “Não temos como chegar impondo”, avisou, entendendo a necessidade de um projeto único que possa levar à transformação de uma cidade “totalmente abandonada”.
Amorim diz acreditar numa vitória da oposição em outubro, contando que em 2020 Allyson Bezerra tinha o apoio do SD e PSD e de um vereador e hoje já são nove vereadores na oposição.
O vice-prefeito “Fernandinho das Padarias” declarou que se preocupou em formar uma chapa de vereadores no MDB, mas também “é a favor de um trabalho em bloco” para a oposição vencer a eleição majoritária. “Acredito que 70% da oposição marchará unida”, defendeu ele, apelando para que as divergências em nível nacional sejam deixadas de lado em favor de um projeto unificado para Mossoró.
TN